top of page

Ainda estou aqui - Cinema e Psicanálise

  • Foto do escritor: Carlos Castro
    Carlos Castro
  • 14 de jan.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 25 de jul.

Quem ainda está em "ainda estou aqui"?


“Ainda estou aqui” lançou, e desde então, não tinha me animado a ir ao cinema ver. Filmes que retratam a ditadura militar me geram aflição. Nunca é um movimento fácil. Mas a Fernanda Torres ganhou o globo de ouro, e o cinema aqui perto de casa aproveitou para passar na tela novamente. Fui ver na segunda-feira.


Uma pergunta que me fazia desde sua estreia era quem está aqui, em “ainda estou aqui”?

Até ver o filme tinha uma aposta. Quem ainda está aqui é Rubens. Com seu desaparecimento, com sua morte sem corpo — falta objeto comum das famílias dos desaparecidos —, é ele que ainda está aqui na vida dessa família.


Vi o filme.


Paiva, como sujeito desaparecido, mas morto, morto mas sem corpo, sua falta proporciona um encadeamento obsceno em que as respostas estão antes das perguntas, e como se sua falta fosse o objeto que encadeia essa família. Confirmo, ele estava ali.


Mas, ao mesmo tempo, também senti que não se trata de falta.


Eunice, em corpo, chama esse lugar para si. Ela ainda está aqui. Como mulher, mãe, esposa, e todos os significantes que possamos encadear ao redor dela — assim com encadeamos em tantos outros os que também ficaram. No velório do cão, na lanchonete, ou ao ter seus truques diante um dente em uma caixa. ainda está aqui. Ficou.


Mas como sujeito cindido, ela ficou de tantas formas.


O Alzheimer, está aí para provar isso. Doença que faz esquecer, veio após a conclusão do caso — não por acaso —, como se esperasse, como se o corpo já tivesse dado todos os sinais, mas como um sintoma ela lembrava.


Ainda não tenho certeza quem é o narrador dessa história, mas ele ainda continua contando.

Fernanda Montenegro - Psicanálise.
Fernanda Montenegro - Ainda estou aqui

bottom of page